Caxias Maranhão, 22 de janeiro de 1897
Querido Jean,
Nossa despedida foi bem dolorosa como sempre. Desculpa não poder ter falado com Charles antes de vocês saírem, tive que ficar, pois, logo depois de sua saída a minha irmã infelizmente se acidentou, mas não se preocupe nós estamos bem, vou ficar cuidando dela por esse tempo.
Mas fiquei sabendo que você pegou a ferrovia Teresina-São Luís, achei que essa ferroviária só se transportava bebida. Olha, não me diga que isso é só uma desculpa pra ficar bebendo durante a viagem inteira, se lembre que eu tenho contatos até do outro lado do país. Espero que eu só esteja me preocupando demais.
Se você não se importa, eu pedi para um sobrinho meu ficar cuidando do escritório enquanto vocês estavam fora, aquele lugar enche muito de poeira durante a noite mesmo vocês tendo deixado impecável antes de sair, parece até mágica. Acho que ele vai dar um trato naquele lugar enquanto vocês estão fora, o coitado estava implorando para um emprego de verão, fazer o que né?
Outra coisa, aproveite, antes de sair da cidade, para passar na casa de uma amiga minha, que se chama Moira, ela é meio melancólica, mas acho que vocês vão se dar bem. Vivíamos nos falando na época da escola e ela não parava de estudar, bem, hoje ela é rica acho que valeu a pena... Tente convidá-la para passear na praça, sempre tem um homem barbado contando histórias sobre a vida dizendo “De tudo, ao meu amor serei atento antes / E com tal zelo, e sempre, e tanto / Que mesmo em face do maior encanto / Dele se encante mais meu pensamento” ou algo assim, é bem divertido ficar ouvindo.
Por enquanto, isso é tudo. Você deve receber essa carta logo depois de sair do trem, pedi para um amigo ir te entregar .
Beijos, do seu grande amor,
- 𝓜𝓪𝓻𝓲𝓪.
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